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Nota pública nr. 001/2022 - Manifesto Abrepaz pela candidatura Lula-Alckmin



Por que defendermos abertamente nosso voto e orientação política?


A Associação Brasileira Espírita de Direitos Humanos e Cultura de Paz - Abrepaz, é uma instituição fundada sobre três princípios basilares: espiritismo, democracia e cultura de paz.

Como espíritas, cremos nas proposições teóricas de Allan Kardec em torno dos argumentos doutrinários centrais: sobrevivência da alma, comunicabilidade dos espíritos e teoria da reencarnação. Pelo rigor da razão e ciência, respeitamos os avanços do conhecimento e os paradigmas que influenciam novas compreensões de mundo. Pelo olhar filosófico espírita, primamos pelo desenvolvimento da ética e do pensamento humanista. E em relação às manifestações da fé espiritualista/religiosa, procuramos nos conectar empaticamente às diferentes formas de expressões de fé, compreendendo-as, defendendo seus espaços e garantindo-lhes respeito à liberdade de culto.

Como democratas, defendemos o direito e a participação igual de todas, todos e todes na organização política do país, entendendo-a, como a arte do bem conviver em sociedade. E, nessa condição, defendemos a Constituição Federal, sobretudo em relação ao Artigo III, cujo texto expressa seus objetivos: “Construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”.

Como defensores de uma cultura de paz, pretendemos a construção de uma sociedade justa e não-violenta, que tenha por ideal o atendimento a todas as necessidades humanas fundamentais, como direito sagrado.

Com base no exposto, seria contraditório que apoiássemos ou mesmo silenciássemos diante de qualquer ideologia extremista, seja de qualquer ordem (espiritual, política, econômica ou cultural), que condicione sua existência à submissão das demais, freando, desse modo, a marcha histórica do progresso (desenvolvimento) da humanidade. Seria contraditório nosso apoio ou simpatia a torturadores, racistas, machistas, misóginos, escravocratas, negacionistas da ciência e da cultura que procuram estabelecer, como via normativa, a linguagem do ódio, na contramão do que propõe Kardec, nas questões 781 à 783 de O Livro dos Espíritos. Ao refletir o progresso humano face às revoluções sociais, o progresso seria como uma forma de aperfeiçoamento inevitável da humanidade na luta contra a ignorância. Ambos (progresso e revoluções) “se infiltram nas idéias pouco a pouco; dormitam durante séculos; depois, irrompem subitamente e produzem o desmoronamento do carunchoso edifício do passado, que deixou de estar em harmonia com as necessidades novas e com as novas aspirações”. O progresso, segundo ele, “é uma força viva, cuja ação pode ser retardada, porém não anulada, por leis humanas más. Quando estas se tornam incompatíveis com ele, despedaça-as juntamente com os que se esforcem por mantê-las. Assim será, até que o homem tenha posto suas leis em concordância com a justiça divina, que quer que TODOS participem do bem, que sejam abolidas as leis feitas pelo forte em detrimento do fraco” (grifos nossos). (KARDEC, L.E. Q. 781-783).

Segundo a filósofa brasileira Márcia Tiburi, no prefácio da 13ª edição de Como Conversar Com Um Fascista, “o fascismo como ideologia – e como prática – é um fenômeno histórico, que se modifica conforme as condições de possibilidades a partir das quais surgem". (TIBURI, 2018) Entendemos por essa e outras razões, que uma ideologia estanque, que não se dispõe a uma dialética da complexidade nos movimentos da sociedade é, por assim dizer, uma ideologia fascista.

O Estado fascista é uma ideologia totalitária que procura união de forças para vencer um inimigo determinado. Ruge uma vontade imperialista de eliminar toda forma de pensamento divergente e limitar a liberdade de escolha com técnicas de polarizações extremas, configurando um discurso messiânico do “nós versus eles”, do “bem versus mal”, pelas mãos de um salvador. Historicamente e sob a égide de um espiritualismo totalitário, o fascismo procura se expressar via máximas que vinculam “Deus acima de tudo”, “família” e “propriedade”, quase sempre acrescido do desprezo pela democracia e seus valores.

O Brasil na década de 1930, foi marcado pelo movimento político de extrema-direita liderado por Plínio Salgado Filho, denominado Ação Integralista Brasileira (AIB). Segundo o historiador João Fábio Bertonha em artigo publicado na revista História e Perspectivas (2011), influenciada pelos ideais e práticas nazifascistas que se desenvolveram na Europa após o fim da primeira Guerra Mundial e início da segunda, a AIB teria sido “o maior partido fascista surgido fora da Europa” (p.430). Em 1938, após tentativa fracassada de golpe de Estado, o partido “fora formalmente eliminado por Vargas, tendo seu líder, Plínio Salgado, se refugiado em Portugal” (p.430). Silenciosamente, durante trinta anos, (mesmo com a derrota do nazismo), o AIB se modificou e se adaptou ao regime eleitoral criando o Partido de Representação Popular (PRP), que ajudou a gestar e processar o golpe de 1964 pelos militares que depuseram João Goulart e estabeleceram um governo violento, onde torturas, e milhares de assassinatos de críticos e opositores foram cometidos. O PRP foi base de apoio desse governo até 1975 com a morte de Plínio. Sob os imperativos dominantes de duas máximas: “Deus, pátria e família” e “Brasil, ame-o ou deixe-o”, podemos perceber que, no fascismo, só há uma via: a sua própria.

Negando o fascismo, a Abrepaz defende a existência de uma sociedade pluripartidária e os debates políticos em torno de propostas “progressistas” interessadas no diálogo e na exposição de ideias, que garantam e enriqueçam o processo democrático.

É por essas e outras, que tornamos público nosso posicionamento e apoio irrestrito, em primeiro turno, para a chapa da frente política do campo democrático encabeçada pelos partidos PT, PCdoB, PSOL, PV, PSB e Rede Sustentabilidade. E o fazemos, considerando esse apoio para todos os cargos eletivos e suas respectivas instâncias (estaduais e federais), tendo à frente a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin, respectivamente, presidente e vice-presidente da república. Entendemos que esses candidatos e chapa, são os que melhor representam nossos ideais na defesa do direito de continuarmos a ter direitos e na luta por uma sociedade plural e igualitária.

Nas circunstâncias em que nos encontramos, sob o domínio fascista, em que as posições se encontram acirradas e não existe via de neutralidade, eximir-se do voto não nos exime da responsabilidade de escolha. O que nos leva a concluir que, não votar em Lula-Alckmin é dar voto e oportunidade ao fascismo de Jair Bolsonaro.

Em nome da liberdade, dos direitos humanos, da democracia, da fraternidade, da cultura de paz e não-violência e no combate à miséria e às desigualdades sociais, subscrevemo-nos.




Brasil, 02 de agosto de 2022

Associação Brasileira Espírita de Direitos Humanos e Cultura de Paz - Abrepaz



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