Por Alessandra Buarque de Araújo Silva (1)
O dia amanhece...
Despertar e não mais encontrar o ente querido fisicamente presente.
A rotina automatizou os seres. O entardecer toma lugar nos corações humanos. A noite cai, o sono não chega; a solidão se faz ausência e milhares choram seus mortos no Brasil da pandemia...
Essa passou a ser a dura rotina de milhares de brasileiros e brasileiras no cenário pandêmico que teve início, mais precisamente, em março de 2020, no Brasil. Estivemos na dianteira dos países Europeus, da China, por, pelo menos, 90 dias, antes da pandemia instalar-se em nosso país; mas, medidas sanitárias não foram adotadas em tempo hábil, pelo governo brasileiro, quando os impactos da pior crise sanitária da nossa história poderiam ter sido minimizados.
Ainda contamos os mortos pela pandemia da covid-19, os amores de cada um. A pandemia recrudesceu em 2021, quando pensamos que já havíamos passado pelo pior. E assistimos, perplexos, que o orçamento previsto para as políticas de saúde em 2021 (2) (R$ 125,8 bilhões) retorna ao patamar pré-pandemia, com os valores próximos aos registrados em 2019, quando não havia pandemia (R$ 122,2 bilhões). É assustador. Apesar do aumento da necessidade de atendimento das pessoas, uma consequência da alta do contágio em 2021, há uma previsão de queda de R$ 35 bilhões nas despesas em saúde. É como se a pandemia houvesse acabado, no Brasil.
Pessoas não são números, mas, no cenário do Brasil pandêmico, estão sendo tratadas, apenas, como estatísticas e, nem assim, confiáveis; porque as subnotificações não nos permitem conhecer a realidade das dores que se tornaram rotina. É nesse contexto que emergem, às nossas vistas, com mais profundo pesar, as desigualdades sociais, as injustiças, a fome, a pobreza, a miséria, o desemprego estrutural, a ausência de teto e de pão... Nos deparamos, muito de perto, com os invisíveis ao sistema. Cientes dessas condições subumanas, das mazelas pelas quais passam o nosso povo, do sofrimento diário que a pandemia veio agravar, precisamos voltar o nosso olhar para as microrresistências que nos permitem acreditar em luzes no final do túnel, em locus de amparo e conforto, lutas e debates, educação e cidadania e, sobretudo, oportunidades e possibilidades de encontros para o progresso humano, a partir da vivência do amor, em sua essência.
A ABREPAZ (3) é uma dessas microrresistências e que nos representa nas lutas cotidianas. São experiências que, juntadas a outras e mais outras, podem auxiliar-nos a engrossar o coro da resistência ao desmonte dos direitos que nos fazem humanos, nos garantem a vida e a dignidade, na perspectiva de uma cultura de paz e não-violência.
Fundada em 10.12.2018, na cidade de Goiânia-GO, quando é celebrado o Dia Mundial dos Direitos Humanos, por um grupo de espíritas que, em seu exercício de cidadania, reuniram-se para trabalhar os Direitos Humanos, a Cultura de Paz e a Não-Violência, tanto no movimento espírita quanto na sociedade em geral. Surgiu com a finalidade de estudar, divulgar e promover os Direitos Humanos, Cultura de Paz e Não-Violência alinhados ao Espiritismo, sob a perspectiva de um conjunto de princípios estabelecidos e desenvolvidos a partir da codificação de Allan Kardec; fundados nos princípios da democracia, transparência, pluralismo de ideias, inclusividade, diversidade e não-violência.
A cultura de paz pede, preliminarmente, comida no prato, terra, teto e trabalho. A comunicação não-violenta não pode prescindir de uma educação em direitos humanos, libertadora, que promova a emancipação dos seres, em busca da igualdade de condições de vida digna.
Essa somos nós, a ABREPAZ e estamos convidando você a nos conhecer, estreitar laços e formar parcerias em busca da transformação para uma nova sociedade, justa, digna e fraterna.
Artigo escrito para o jornal Diário da Manhã e publicado no dia 16/07/2021.
1 Voluntária da ABREPAZ em Maceió-Alagoas, Brasil. Mestre em Políticas Sociais e Cidadania. Especialista em Previdência Social.
3 No blog no site www.abrepaz.org você pode encontrar mais informações sobre a Associação, sua carta de fundação, eventos, artigos, voluntariado, inclusive o acesso para tornar-se um associado ABREPAZ.
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