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Espiritismo, direitos humanos e disputa de narrativas



Fórum de Pesquisa Filosófica e Social sobre o Espiritismo promoveu o diálogo, a pesquisa, o debate e a reflexão de espíritas e não espíritas


Este evento foi histórico!


Foi o que ouvimos de várias pessoas ao final do Fórum de Pesquisa Filosófica e Social sobre o Espiritismo, que foi realizado em Goiânia, entre os dias 14 e 16 de junho de 2019, no IPTSP – Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública – UFG (Universidade Federal de Goiás), pelas entidades Aephus (Associação Espírita de Pesquisas em Ciências Sociais e Humanas) e Abrepaz (Associação Brasileira Espírita de Direitos Humanos e Cultura da Paz), em parceria com o GPCor/UFG (Grupo de Pesquisa em Comunicação e Religiosidade).


Com o tema principal “Direitos Humanos e Cultura de Paz”, o Fórum promoveu o diálogo, a pesquisa, o debate e a reflexão dos espíritas e não espíritas, sobre diversos temas e com um enfoque científico e filosófico.


Para a diretora da Aephus, Ângela Moraes, o fórum teve a proposta de convergir as metodologias científicas com os estudos dos fenômenos espíritas no ponto de vista das ciências sociais e humanas e contou com a participação de pesquisadores e professores, em boa parte, mestres e doutores. “Os participantes são convidados ao debate que une ciência e espiritualidade. A academia que pode conhecer melhor o movimento espírita brasileiro, e os espíritas se atualizam em relação à ciência”.


Os participantes, vindos de diversas regiões do Brasil, gostaram muito e já aguardam o próximo. Aqueles que não puderam estar presentes pessoalmente, poderão assistir os vídeos que já estão sendo editados e logo estarão disponíveis nos canais da Aephus e da Abrepaz.


O Fórum se estabeleceu como uma oportunidade de reunir os espíritas progressistas, aqueles que compreendem a necessidade da transformação social como consequência natural da transformação pessoal, de promover a inclusão e a justiça social, a liberdade, o respeito, a fraternidade, a igualdade e a diversidade.


Fábio Santos, presidente da Abrepaz, ressalta que “nestes tempos em que a academia, as pesquisas, os professores e a educação são tão atacados pelo ultraconservadorismo, onde a filosofia e a sociologia são menosprezadas e as universidades federais enfraquecidas pela política do governo atual que flerta com o fundamentalismo, este evento ganha ainda maior gravidade pois propõe a liberdade do pensar entre duas áreas que pouco se relacionam: a Ciência e a Religião. Traz ainda a oportunidade de, pela pesquisa social e filosófica, evitar a dogmatização do pensamento espírita, dessacralizar certas falas ou discursos de ‘representantes’ do Espiritismo, submetendo-os à luz da razão conforme preconiza Kardec: que o Espiritismo seja uma fé raciocinada”.


“Navegar é preciso, viver não é preciso”, assim pronunciou Pompeu nos tempos da Roma Antiga, diante do temor dos marinheiros em enfrentar os mares bravios e os piratas. Se temos a bússola do Cristo a nos orientar, não significa que a vida não contenha imprecisões, surpresas, conflitos, imprevistos, adversidades. Além disso, não navegamos sós neste imenso oceano, mas acompanhados de muitos irmãos, cada qual com suas verdades ou incertezas, motivações e escolhas. Por isso, o diálogo, o estudo e a reflexão abordados nos temas do Fórum nos ajudam na compreensão e transformação.


Houve três mesas redondas com temas de enorme relevância social, educativa e espiritual.


A primeira com o tema Espiritismo e Educação para os Direitos Humanos, com Dora Incontri e Núbia Simão. Dora Incontri trouxe a Pedagogia Espírita, que não é “catecismo espírita”, mas a educação inter-religiosa com respeito e empatia à criança, vista em sua dimensão espiritual e Núbia Simão relatou experiências com jovens em processos de ressocialização e a necessidade de humanizá-los.


A segunda mesa foi sobre Violência: causas, prevenção e políticas públicas, com Dagmar Ramos, Michele Cunha e Fábio Santos. Dagmar Ramos expôs suas experiências na Saúde Pública, movimentos sociais e no movimento espírita, assim como a contribuição das terapias integrativas para combater a violência. Michele Cunha relatou sobre a violência no Brasil e a guerra invisível que tem alvos preferenciais na sociedade: o jovem negro periférico e outros em situação de vulnerabilidade. Não se combate violência com mais violência e Fábio Santos trouxe a Comunicação Não Violenta, a necessidade do diálogo e de olhar para o conflito, inclusive dentro do movimento espírita. Da importância da coerência do espírita, dentro e fora do centro.


A terceira foi sobre Espiritismo e Temáticas Contemporâneas: Sexualidade e Gênero, Movimento Negro e Esperanto, com Rafael Sanguanini, Zélio Oliveira, Beatriz Santos e Querino Neto. Rafael e Zélio expuseram sobre as questões de sexualidade e gênero nas obras espíritas. Beatriz Santos relatou as experiências de ser mulher preta dentro do movimento espírita, com questionamentos importantes e Querino Neto contou sobre o Esperanto e seu papel de união das pessoas, criando a cultura de paz, preservando a cultura étnica e combatendo o colonialismo.


A programação artística contemplou o teatro (Espetáculo Reflexos, por Helíel Venturoso e Leonardo Mendes), a dança (performance de Warla Paiva), e a música (Show Consciência e Paz, de Marielza Tiscate e participações especiais de Ricardo Sardinha, Carla Rezende, Andressa Toledo, Haroldo Menezes, Bruna Brasil e Noêmia Lopes), levando à reflexões e experiências sobre os temas do Fórum.


Reuniram-se vários trabalhos de pesquisa e relatos de experiências, tais como: O Espiritismo e as transformações sociais: além da caridade, há salvação!; Direitos Humanos para quem?; A sociologia da mentalidade espírita: ensaio sobre uma ampliação espírita do conceito de sociedade; As inversões morais e o mal banalizado no movimento espírita brasileiro; Espiritismo e materialismo: um breve estudo filosófico; Princípios de justiça social: um estudo comparativo entre Rawls e Kardec; A “Pedagogia de Eurípedes”: uma revisão bibliográfica sobre o Colégio Allan Kardec no período da gestão Barsanulfo (1907-1918).


“Todo efeito tem uma causa;

todo efeito inteligente tem uma causa inteligente;

a potência de uma causa está na razão da grandeza do efeito.“

Allan Kardec



Franklin Félix

É psicólogo, educador, militante pelos direitos humanos e um dos idealizadores do movimento de espíritas pelos direitos humanos.


* Colaborou Myrella Brasil

 

Artigo publicado na revista Carta Capital na seção Diálogos da Fé.


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